Após 15 anos, coleta com contêineres avança, mas ainda enfrenta problemas antigos

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Após 15 anos desde a instalação dos contêineres em Santa Maria, a coleta de resíduos conseguiu avançar em alguns aspectos, mas precisa de melhorias em outros pontos. Ao longo deste tempo, houve um aumento na quantidade de equipamentos instalados na cidade e nos dias de recolhimento. Por outro lado, ainda é comum encontrar estruturas vandalizadas, incendiadas e transbordando, além de lixos espalhados em volta dos contêineres. Em meio a esse cenário, o Diário conversou com prefeitura, especialista e população para entender os prós e contras deste sistema.

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Três empresas em 15 anos de serviço

Os primeiros contêineres foram instalados na cidade em 28 de novembro de 2008. No total, eram 400 equipamentos verdes em dois tamanhos diferentes. A coleta era realizada com intervalo de três a quatro dias. Também foram instalados ecopontos para descarte dos recicláveis. A responsável pelo serviço era a PRT, que tinha contrato com a prefeitura com valor de R$ 8 milhões por ano. Diante da falta de cronograma de recolhimento, o que ocasionava acúmulo de resíduos, o Executivo decidiu romper o contrato.

Em 2010, a Revita Engenharia S.A. assumiu o serviço. Dentre as mudanças, estavam o aumento no número de contêineres para 500, recolhimento feito por dois caminhões (no contrato anterior, era apenas um) e reforço nos ecopontos. O novo contrato também tinha um custo maior, cerca de R$ 10 milhões.

Após seis anos, foi feita uma licitação e a Cone Sul Soluções Ambientais, de Porto Alegre, passou a gerenciar a coleta conteinerizada. O contrato era de R$ 9 milhões e tinha mais novidades, como coleta de móveis e eletrodomésticos velhos, e de lixo descartado em locais irregulares, como sangas e terrenos baldios.

Em 2016, também foi feita a substituição de todos os contêineres verdes por 600 equipamentos novos na cor branca. Além do centro, mais três regiões passaram a contar com a coleta conteinerizada.

Atualmente, o serviço continua sendo prestado pela Cone Sul, que foi a única empresa que apresentou proposta na licitação lançada neste ano pela prefeitura. O novo contrato começa em 23 de fevereiro de 2024. Os contêineres serão trocados novamente e o custo por ano será de R$ 10 milhões por ano.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

A coleta com contêineres atualmente

  • 630 contêineres com capacidade de 3,2 m³ 
  • 600 espalhados pela cidade e 30 para casos de necessidade de reposição, substituição ou reforço
  • Coleta atende o Centro, principalmente, e em menor escala, alguns bairros próximos, como Nossa Sra. de Lourdes, Rosário, Nossa Sra. das Dores e Menino Jesus
  • Por dia, são feitas duas coletas (diária e noturna) por dois caminhões, com sistema de recolhimento lateral
  • A limpeza, interna e externa com caminhão, ocorre semanalmente, com auxílio de uma equipe de apoio com motocicletas
  • Todos os equipamentos são identificados por número e possuem georreferenciamento
  • WhatsApp do S.O.S. Contêiner – canal para denúncias de irregularidades ou solicitação de limpeza/manutenção dos contêineres – (55) 99112-2826
  • A vida útil dos contêineres é em torno de cinco anos
  • Neste ano, 115 contêineres precisaram ser substituídos
  • O custo de cada equipamento é de aproximadamente R$ 15 mil
  • Até o dia 25 de dezembro, foram recolhidos cerca de 18 mil toneladas de resíduos dos contêineres, agosto e novembro foram os meses com maior quantidade de lixo gerado
Foto: Nathália Schneider (Diário)

Recolhimento dos contêineres por mês em 2023

  • Janeiro – 1532,7 t
  • Fevereiro – 1358,8 t
  • Março – 1618,72 t
  • Abril – 1427,03 t
  • Maio – 1640,59 t
  • Junho – 1573,69 t
  • Julho – 1592,19 t
  • Agosto – 1674,87 t
  • Setembro – 1667,9 t
  • Outubro – 1665,79 t
  • Novembro – 1692,43 t
  • Dezembro – 1509,24 t
  • Total – 18.953,95 t

*Dados até 25 de dezembro

Prós

O superintendente de Serviços Públicos de Saneamento, Ivan Nazaroff, destaca que os pontos positivos da coleta conteinerizada são a capacidade de resíduos que os equipamentos conseguem armazenar e a velocidade rápida de recolhimento.

– Além de ser bom pelo volume que coleta, é extremamente higiênico se a população usa de forma correta. Porque um contêiner com uma manutenção bem feita, não deveria ter cheiro. Temos um baixo impacto no trânsito. É um sistema completamente automatizado, sendo utilizado em áreas com bastante adensamento em que não teríamos como fazer uma coleta porta a porta. Por mais caro que seja, o sistema mantém a cidade com um aspecto mais limpo – explica Nazaroff.

Em comparação com o período anterior à instalação dos contêineres, em que apenas as lixeiras eram utilizadas, o aposentado Antonio Carlos Costa, 65 anos, avalia que a forma de descarte melhorou:

– Antes, tinha que deixar o lixo no portão para vir recolher ou os catadores pegarem. Agora, é só colocar ali dentro.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

A professora do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Marta Tocchetto, afirma que os contêineres começaram a ser utilizados para atender o grande volume de resíduos gerados nos centros urbanos.

– Quais são as vantagens? É oferecer uma alternativa coletiva, um local fechado, ao invés de ficar na calçada, com cachorros revirando, ou com aparecimento de vetores, como ratos, baratas e outros animais que vem buscar alimentos, evita porque fica fechado dentro do local. O ambiente fica mais limpo sem o visual de sacos ou de lixos derramados, rasgados, pela via pública, mau cheiro. Poder fazer um planejamento de coleta mais organizado dentro da cidade. Na teoria, é bom. O problema é que o sistema isolado e sozinho não funciona da forma adequada. Precisa administração, gestão e observação – relata Marta.

Contras

Apesar do sistema conteinerizado ser considerado o método mais adequado para locais com grande geração de resíduos, no dia a dia, ainda são relatados problemas no descarte e no recolhimento do lixo.

Na visão do superintendente Ivan, o principal empecilho está relacionado ao mau uso do contêiner. Ele cita como exemplo o descarte de materiais de construção civil e até resíduos da saúde nos equipamentos, que são voltados, exclusivamente, para o lixo domiciliar. Com relação ao acúmulo de resíduos em torno dos contêineres, Nazaroff também indica que isso é resultado da forma inadequada de utilização.

– O contra, principalmente, é o modo como a população usa o sistema. Porque, além do preço elevado, não temos nenhum ponto negativo inerente ao sistema. Temos catadores, que entram, colocam o resíduo para fora e não colocam de volta. Parece que as pessoas querem colocar a culpa só nos catadores, mas já recebi fotos e vi também pessoas com preguiça de apertar o pedal e jogar lixo na lateral do contêiner. Então, temos muito esse problema da população não saber usar os contêineres – diz o superintendente.

Esse, inclusive, é um dos problemas enfrentados em um dos contêineres instalados na Rua Comissário Justo, em que reside o aposentado Antonio Carlos Costa. Por lá, os próprios moradores costumam recolher o que é deixado no entorno dos equipamentos:

– De madrugada, mexem nos contêineres e deixam o lixo para o lado de fora. No outro dia de manhã, eu ou a empregada da vizinha recolhemos – conta.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Marta Tocchetto aponta que o acúmulo de lixo dentro e no entorno está relacionado à quantidade insuficiente de horários de coleta e de contêineres

– Não adianta ter contêineres em números insuficientes que isso vai acontecer. Esse planejamento com relação a quantos contêineres colocar relacionado ao volume produzido é extremamente importante. Há os catadores autônomos que fazem a garimpagem desses sacos e aquilo fica rompido. Isso também leva a informação de que os horários que estão sendo coletados estão insuficientes porque acumula, dá tempo de pessoas ou animais passarem e romperem.

Reclamações

Segundo Nazaroff, a principal reclamação que chega ao setor da prefeitura é relacionada aos contêineres que estão instalados em frente às residências:

– O que mais chega para nós, que brigamos e tem semana que é até polêmico, é que “ninguém gosta de contêiner em frente à sua casa, mas ninguém quer um contêiner longe dela”. É sempre assim. A pessoa chega e diz que é barulho, cheiro, resíduo. Alguém vai ter que ter o contêiner em frente à sua casa, infelizmente, faz parte do sistema. A maior reclamação que temos é para troca de lugar.​

A técnica em enfermagem, Rosangela Niederauer, 64 anos, enfrenta essa situação e já solicitou a mudança de lugar do contêiner, mas não teve retorno.

– É um inferno. Passam a noite inteira abrindo e fechando o contêiner, não conseguimos dormir. Tem pessoas de outros lugares da cidade que vem colocar lixo aqui e colocam de tudo, até móveis. Além do cheiro e do barulho, tem mais esse inconveniente – comenta Rosangela.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Para a professora Marta, o ideal seria oferecer um sistema completo para a população, ou seja, com locais adequados para o descarte de todos os tipos de resíduos (recicláveis, orgânicos e rejeitos). Hoje, por exemplo, a coleta seletiva é destinada apenas para 12 bairros da cidade e não há alternativa para os orgânicos.

O problema do resíduo urbano é o orgânico. Se fizermos a gravimetria, o percentual, vamos ver que cerca de 50% e, em alguns lugares, até mais, é de resíduo orgânico. Isso significa que é esse resíduo que compromete o sistema porque começa a acontecer o processo de degradação do resíduo dentro do próprio contêiner, gerar o chorume, mau cheiro, junta mosca e barata. Todas essas questões acabam influenciando no contêiner – detalha Marta.

Segundo a professora, ainda faltam investimentos em educação ambiental e em alternativas para o descarte e a coleta de resíduos. Uma das opções que Marta cita é o contêiner subterrâneo, em que apenas um utensílio em formato de cilindro fica disponível na rua. A estrutura restante do contêiner, no mesmo formato que os contêineres que ficam nas ruas de Santa Maria, é subterrânea:

– Ao invés de ficar em cima da calçada, atrapalhando a calçada e a acessibilidade, fica enterrado, fica só um cano para cima, onde o saco é descartado. Não vejo que, em Santa Maria, temos essa visão de modernização e aprimoramento do sistema. Claro que custa caro, é um sistema que não é barato. Mas, precisamos investir, não adianta apontar o problema e deixar assim. Vai sempre esbarrar na questão do gestor público colocar como prioridade esse tipo de investimento.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

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